cartas

Entre os anos de 2015 e 2020, eu escrevi cartas endereçadas às pessoas queridas e aos amigos do Brasil, num projeto que tomou forma logo após o início do meu processo imigratório e a subsequente experiência de tornar-se estrangeiro.

#1 - Não precisa me procurar

 

Aqui mesmo.


Querido Rogier,

Espero que as coisas estejam bem por aí. Eu ainda estou aqui, em São Paulo, 461 anos. Mas decidi enviar um deles porque o processo já começou faz tempo. E a gente não saí de um lugar para o outro assim, do nada. Leva tempo, gasta dinheiro, queima neurônio, caloria.
E que calor por aqui! Não vejo a hora de congelar o nariz de novo, vestir minhas ceroulas de inverno, meu cachecol cinza roubado (da Letícia). É sério, você me conhece e sabe que nunca gostei de calor. Nunca gostei de muita coisa...
Li por aí que "a vida começa quando saímos da zona de conforto". Taí. Deve ser verdade, pois sinto que agora que vai começar. Ou recomeçar ("mil vezes recomeçar", obrigado Walmor!). Não sei. A fotografia vem como aceitação - própria - de que sempre estive fora do eixo, cheio de careta, tentando sair da zona de conforto (?)
Gosto de pensar assim. Além, mesmo que nunca lá de fato. Longe, mas... longe de onde? Papo para outra hora.
Daqui eu fico arrumando as malas, pensando no disco do Belchior que comprei aí na Holanda... mais inusitado impossível, embora agora eu ache que ele vai será um dos meus melhores amigos por aí.

Belchior e eu nos encontramos.

Acabou a procura.

Henri

H Badaröh