#2 - Vapor barato
Longe daqui.
Querida Evelyn,
"Escrevo enquanto ouço Rufus. E nessa repetição da música, só me encontro cada vez mais descrito. Estou prestes a ir, de fato, para uma cidade que já foi destruída. Estou, de fato, cansado da América. E de fato eu tenho uma vida a viver".
Escrevi esse trecho ainda em minha terra natal. Não me entenda mal, não quero dizer que desisti daí... só não enviei, vai saber porquê... Talvez eu ainda não estivesse preparado para a despedida, para o desconhecido.
Mas é tudo uma questão de perspectiva... de encontrar as respostas. E as perguntas são tantas... A única certeza é que desde o momento da minha entrada neste eterno limbo, o sentimento que mais me permeava era o de um nômade. Morador de lugar nenhum. E eu tenho uma alma a manter... estou recuperando-a agora.
Nas últimas semanas aconteceu mais que nos últimos meses. E foi tudo um redemoinho de emoções, não tive nem ao menos tempo de pensar, de sentir. Vi muitas pessoas, revi amigos, vivi sentimentos antigos. E voei para cá.
No meio desse furação de mudanças acabei lendo um daqueles livros que caem em suas mãos do nada, com a mensagem certeira para tal momento da vida. "Só Garotos".
Momento este em que tudo revirou e mudou de posição. O céu não é mais o mesmo, nem a língua, nem a comida. Nem mesmo eu mesmo.
Aquela do Zeca Baleiro anda valendo para mim: "ando tão à flor da pele que qualquer (...) me faz chorar". E o choro é não-identificado, é involuntário e impreciso. É choro brasileiro. Vai passar, minha irmãzinha. Deixo-te o livro, contudo. Como naquela cena do Quase Famosos, este é o meu Tommy para você. É uma vela acesa: para jamais se apagar, se perder.
Enquanto isso, espero que eu tenha preparado o melhor dos cavalos...
Vou precisar. Aqui as pessoas já foram decepcionadas.
Te vejo em breve.
Henri